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Guerra Civil, de Alex Garland - Uma Análise

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Guerra Civil , o novo filme de Alex Garland, está no debate público em duas frentes: por sua temática e contexto de lançamento.  O nível da trama tem um foco maior nos EUA, em mais um ano eleitoral atípico, com nova disputa entre Trump e Biden, retratando não somente uma guerra em “solo americano”, o que é simbolicamente forte, principalmente após o 11 de setembro de 2001, mas uma guerra entre cidadãos estadunidenses. O contexto possui maior amplitude e principalmente atinge o Brasil, que passa por uma situação de crise nas instituições políticas, com um governo com baixa taxa de popularidade e em claro conflito com o poder legislativo, além de uma população dividida politicamente, entre outras problemáticas.  O filme abraça isso tudo, servindo enquanto um espelho das aflições que marcam (parte) do mundo contemporâneo e que nos traz uma pergunta, entre várias, muito importante: o que seria do mundo como o conhecemos se pararmos de acreditar em nossas instituições - políticas, ...

Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet - Uma Análise

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       Ao final deste Anatomia de Uma Queda , de Justine Triet, produção francesa vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes e  forte concorrente na temporada internacional de prêmios do cinema, lembrei-me de um grande filme que não vejo há tempos: A Caça , do dinamarques Thomas Vinterberg.  Fazendo a separação temática, é claro, com o longa estrelado por Mads Mikkelsen retratando um professor de jardim de infância repentinamente acusado de pedofilia por uma aluna, o que há em comum entre as obras, além do foco do impacto de um grande caso na vida dos personagens e em suas relações, é a questão do distanciamento a da direção enquanto figura mediadora, isto é, acompanhamos o caso, o processo, os pontos de vista diversos, duvidamos, mas não se faz juízo de valor.  A principal diferença, por outro lado, é que, se o filme de Vinterberg termina com um gosto amargo de que, para o personagem, o drama nunca vai acabar, aqui há uma tentativa de resolução...

Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese - Uma Análise: parte 1

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  Eu estava na sessão de Oppenheimer , de Christopher Nolan, quando começou o trailer de Assassinos da Lua das Flores , o novo filme do lendário Martin Scorsese. Eu não tenho o costume de assistir aos trailers, mas o que eu poderia fazer? Fechar os olhos e tapar os ouvidos?  O trailer era incrível. Explosivo, intenso, dramático. Como um típico longa do diretor. Acontece que, assistindo-o finalmente, percebo que aquela peça de divulgação era, em algum sentido, enganadora. O filme é sim explosivo, intenso, dramático, e muito mais, porém, com muito mais sensibilidade, calma e refinamento estético.  Os estouros de violência estão presentes, os movimentos rápidos de câmera também, tal como as escolhas narrativas inusitadas, mas em doses menores. Scorsese não precisa desses elementos, ele os usa quando quer, e brinca com eles, e com nós, o público, que tem a experiência de um filme cujo diretor está sob o pleno domínio de seus poderes. … Como o filme é uma das estreias do mês ...

Indiana Jones e a Relíquia do Destino

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O elo perdido Pra mim, Indiana Jones é sagrado.  Oi? Sim, é isso mesmo que você entendeu.  Assistir aos filmes dirigidos por Steven Spielberg e produzidos por George Lucas são verdadeiras experiências. Está tudo lá: ação, aventura e romance; comédia, drama e suspense; uma história bem escrita e desenvolvida e sequências de ação frenéticas e empolgantes. Até mesmo o ponto mais baixo da franquia, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal , de 2008, tido como o último da série, possui essa magia - apesar de ser um tanto problemático, tenho que admitir.  É um tanto decepcionante que Indiana Jones e a Relíquia do Destino , último lançamento de junho de 2023 e que promete, agora de fato, imagino, ser o último da franquia, seja somente bacana, com boa vontade.  Ainda que o diretor James Mangold - realizador por trás de Logan , entre outros projetos - emule dignamente Steven Spielberg, concebendo grandes sequências de ação, misturando drama, comédia, suspense e romance e...

Oppenheimer, de Christopher Nolan - Uma Análise: Final

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           Nem todo filme sobrevive a uma segunda vez.  Seja porque o filme em questão não é muito bom, então o repeteco revelaria mais problemas, seja porque não há mais o que tirar dele em termos de discussão - já se absorveu tudo e houve um esgotamento -, e não há mais nada a se oferecer além disso.  Então foi com certo temor que revi Oppenheimer, para escrever este texto que você está lendo agora - ou não, então estou escrevendo pra mim, e o problema seria só meu duplamente…vamos voltar para a análise, melhor. E o receio não é porque “ na primeira vez é sempre melhor, não é mesmo?” (risada ao fundo), e sim porque a primeira experiência contempla o descobrimento, sentir o que não sentiu antes, e, claro, isso, geralmente, amplifica a sensação de deslumbramento, o maravilhamento diante uma obra a ser desvendada. Dessa forma, quando sentei-me novamente em frente à tela no templo chamado cinema, tive uma experiência menos bombástica (com o...

Oppenheimer, de Christopher Nolan - Uma análise: Parte 1

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Segundo a mitologia grega, o titã Prometeu roubou o fogo dos deuses e apresentou-o à humanidade. Esse ato de benevolência, claro, foi acompanhado de uma punição: por ordem de Zeus, Prometeu foi acorrentado em uma montanha onde, dia após dia, por gerações, uma águia devorava seu fígado, que se curava todas as noites.  Essa referência não é minha, obviamente. Além de estar no título do livro que o inspira - Oppenheimer: o mito e a tragédia do Prometeu americano , lançado aqui no Brasil pela editora Intrínseca -, o roteiro de Christopher Nolan, Kai Bird e Martin Sherwin abre este paralelo entre a história de J. Robert Oppenheimer e o Mito de Prometeu já na abertura do filme, que, ao contrário do que se pode parecer, não é sobre a história da criação das bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki em 1945, o ponto final da Segunda Guerra Mundial, mas sim tem nela um claro ponto de interesse, e é dela que saí a grande discussão: o que nos impede de nos destruirmos? Além de, é cla...