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Mostrando postagens de 2021

Army of Dead - Invasão em Las Vegas

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O caráter crítico, filosófico e alegórico dos filmes de zumbi, pode-se dizer, existe desde que o pai do sub-gênero George Romero realizou o seu Despertar dos Mortos , na década de 70. Considerado sua obra prima, o filme apresentava uma visão extremamente irônica do consumismo nos Estados Unidos. Desde os mortos-vivos que, por terem memória levemente remanescente, paravam hipnotizados em frente às vitrines de lojas até, claro, ao grupo de protagonistas que encontram como refúgio um shopping . Ao dirigir o remake do clássico de 1978, Zack Snyder, em seu debute como diretor de cinema, sabiamente adotou a ação de ritmo frenético como o forte de Madrugada dos Mortos , de 2004, jogando possíveis interpretações e reflexões para o segundo plano - ainda que tenhamos ótimos momentos, como o do segurança de shopping vivido por Michael Kelly, que, mesmo diante de um apocalipse à sua espreita, continua a proteger as lojas e, claro, abusar de seu falso poder. Em seus trabalhos seguintes, sempre mant...

Acossado

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  O quão importante é a linguagem formal de um filme, para sua estrutura, feitura e gênero? Ou melhor, o que pode definir um? E o que acontece quando você muda tudo? Um dos maiores e mais influentes ciclos cinematográficos de todos os tempos, a Nova Onda – Nouvelle Vague, no francês – buscava trazer um frescor para o cinema da época. Críticos na seminal revista Cahiers du Cinéma , nomes como François Truffaut, Eric Rohmer, Jean-Luc Godard e Claude Chabrol justamente clamavam por obras autorais, de estilo próprio e ousadas, aos moldes do que era feito, por exemplo, por Alfred Hitchcock nos Estados Unidos. Assim, indo à contramão das produções francesas dá época e anos predecessores – que contavam sempre com um grande aparato, sendo concebidos num mesmo sistema e apostando em fórmulas, ainda que eficientes -, esses críticos e, por consequência, outros apaixonados por cinema como Agnés Varda, passaram a envolver-se na produção de filmes, buscando uma voz própria e que ia contra ao u...

A Voz Suprema do Blues - Crítica

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  A transposição da energia e da troca entre público-elenco dos palcos para o ritmo, a montagem e toda a complexidade de linguagem de uma produção cinematográfica são a prova final para uma boa adaptação do teatro à tela grande.   Nesse sentido, A Voz Suprema do Blues, de George C. Wolfe, baseado na peça de August Wilson datada de 1984, se sai muito bem a partir do momento em que adere a um escopo reduzido, contando assim uma história bastante enxuta, funcional e que não corre o risco de se perder ou entregar-se a clichês. De maneira concisa e sem mais delongas, compreendemos em que o roteiro de Ruben Santiago-Hudson irá focar muito rapidamente: em menos de dez minutos, mais ou menos. Numa introdução em flashback, já somos apresentados aos conflitos que permearão a trama – a tensão sexual entre Levee (o finado Chadwick Boseman) com a dançarina Dussie Mae (Taylour Paige), a desconfiança de seus colegas de banda Toledo (Glynn Turman), Cutler (Colman Domingo) e Slow Drag (Micha...

Criatura x Atleta

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Está um sol escaldante na selva. Ali, junto as cobras, o gado e os engravatados (tem que ter, né) encontra-se o Atleta. Ele esbanja sua pochete, seu cabelo com gel e um vocabulário reduzidíssimo, mas incisivo. O homem caminha com uma postura de militar, sempre olhando para frente e reto – por dentro, tem medo, mas isso é outra história. Anda pela mata sem um rumo ou objetivo certo, simplesmente vai, a esmo. De repente, ouve algo: “Ou é índio ou é militante do MST”, pensa o Atleta. Sua pose muda e agora anda mais rápido, veste um casaco com o rosto de Paulo Guedes para se proteger. Os sons continuam e o homem não sabe o que fazer, como agir e nem em que pensar. “O que Lula faria?”, fala consigo mesmo. Acelera o passo. O sol praticamente o persegue. Chegando em um campo aberto, o Atleta depara-se com seu maior inimigo: A Criatura. Ela é bípede, acinzentada e possui bico. Movimenta-se curvada e parece não enxergar o homem, ele é invisível. E tem medo, porque se lembra do que o anima...