Death Note (Ou Porque nós, Definitivamente, não Entendemos o Japão)

Antes de finalmente escrever esse texto que você esta lendo (imaginando, claro, que você não tenha pulado para o final ou simplesmente nem aberto o link) eu estava pensando em falar sobre A Forma da Água, basicamente para ser babaca e esbanjar o fato de que eu havia o assistido em uma pré estreia. Mas antes de sentar-me em minha poltrona de presidente eu decidi falar sobre algo muito melhor que esse romance entre uma mulher e um peixe humanoide. 

Por mais que muitos não acreditem, sim, Death Note, da Netflix, é um marco nesse mercado de adaptações de animes para o cinema, já que, ao contrário de seus antecessores, ele é um filme que transcende (usarei essa palavra sempre que puder) todos os níveis de compreensão sobre um produto derivado do Japão. 

E esse fenômeno se deve ao fato de que todas as outras tentativas de se levar obras japonesas ás telonas por mãos americanas sempre se prendiam muito ao material fonte. Criando assim uma dicotomia estranha, já que haviam algumas das bizarrices originais, mas outras não apareciam. Um exemplo. Para os envolvidos, um adolescente se transformar em macaco em Dragon Ball Evolution era tranquilo, agora, os cabelos de Goku, o protagonista, eram demais pra dose e foram reduzidos a um corte que nem um hipster usaria. 

E essa liberdade (e bom senso) maior é o que torna esse versão ótima. Reparem que eu disse "versão", e também chamar esse longa de Death Note de "adaptação" seria um erro. Já que não é só a localidade e as referências que mudam, também a história. Do original sobram o nome de alguns personagens, o titulo e o ponto central da trama. O resto todo é diferente. Ok, talvez nem tanto, já que o meu conhecimento do anime e do mangá é o mesmo que o de idosos usando computador. 

Ao contrário de uma trajetória que fala sobre bullying, vingança, traição e sei lá o que mais japonês inventa hoje em dia, vemos aqui uma história policial sobre dois adolescentes sem habilitação que brincam de justiceiros. Simplesmente genial. E essa simplificação faz com que tudo se desenvolva melhor e de uma forma mais rápida, e sem muitas explicações, algo raro se tratando de americanos levando um produto estrangeiro para sua visão. 

E falar em outra visão é o que prova como animes como Death Note podem se sair bem mesmo sofrendo essas mutações. São histórias universais que só dependem do contexto certo. Por isso certas diferenças drásticas como manter o caderno em segredo não funcionam - e pensando bem, nem fazem sentido. Pense comigo, você não iria querer contar que você tem um caderno que poderia acabar com a corrupção de um pais inteiro?  Acho que não né.

Por isso que no inicio desse texto eu disse que "é um filme que transcende" a percepção do público por essas adaptações, ou versões. Os chiliques do protagonista estão lá para mostrar que ninguém normal (ou não oriental) se mantém firme ao ver um monstro de 2 metros, ou deixar em sigilo a posse de uma caderneta que pode matar qualquer um - dentro das regras, lógico -...Enfim, artifícios usados para mostrar que as loucuras japonesas não funcionam em todo lugar. 

Por Victor Braz

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