Era tudo o que mais queria


Brasil. 2019. 

X vivia de forma solitária. 

Ficava em casa, no seu quarto ao invés de interagir com pessoas, frequentar espaços públicos ou respirar arte. 


A tecnologia, porém, era sua companheira.


Nas redes sociais, conversava com diversas pessoas sob um pseudônimo, uma conta anônima, escondendo sua verdadeira identidade.


Com o celular nas mãos, passou a não prestar mais atenção ao mundo à sua volta, nas pessoas, nos locais, em tudo. 

Com os fones de ouvido, já não ouvia mais os sons das vozes, dos pássaros cantando, do vento e nem do insuportável barulho produzido pela construção civil. 

Usando o corretor automático, já não entendia a própria língua nativa. 

Dentro da bolha das mídias sociais e por conta dos algoritmos, já não tinha gostos próprios e consumia somente o que lhe era recomendado. 

Aos poucos, passou a não respirar mais ar fresco ou ver a luz do sol e a lua à noite, tampouco notou que, como não falava mais, havia perdido a voz e que já não saia da cadeira, onde estava praticamente colado. 

Paradx em uma única posição, fixa, com a cara na tela, sua coluna já estava completamente travada e havia perdido a visão. Na realidade, seus sentidos já não haviam uma utilidade como em outrora. 

Sua pele ficou negra e seu corpo, por completo, se tornou uma carcaça de metal, suas veias viraram cabos, se conectando diretamente ao cérebro, que controlava tudo. 

No isolamento completo, X se tornara o que mais queria: Um computador. 

Por: Victor Braz

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