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Mostrando postagens de 2023

Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese - Uma Análise: parte 1

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  Eu estava na sessão de Oppenheimer , de Christopher Nolan, quando começou o trailer de Assassinos da Lua das Flores , o novo filme do lendário Martin Scorsese. Eu não tenho o costume de assistir aos trailers, mas o que eu poderia fazer? Fechar os olhos e tapar os ouvidos?  O trailer era incrível. Explosivo, intenso, dramático. Como um típico longa do diretor. Acontece que, assistindo-o finalmente, percebo que aquela peça de divulgação era, em algum sentido, enganadora. O filme é sim explosivo, intenso, dramático, e muito mais, porém, com muito mais sensibilidade, calma e refinamento estético.  Os estouros de violência estão presentes, os movimentos rápidos de câmera também, tal como as escolhas narrativas inusitadas, mas em doses menores. Scorsese não precisa desses elementos, ele os usa quando quer, e brinca com eles, e com nós, o público, que tem a experiência de um filme cujo diretor está sob o pleno domínio de seus poderes. … Como o filme é uma das estreias do mês ...

Indiana Jones e a Relíquia do Destino

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O elo perdido Pra mim, Indiana Jones é sagrado.  Oi? Sim, é isso mesmo que você entendeu.  Assistir aos filmes dirigidos por Steven Spielberg e produzidos por George Lucas são verdadeiras experiências. Está tudo lá: ação, aventura e romance; comédia, drama e suspense; uma história bem escrita e desenvolvida e sequências de ação frenéticas e empolgantes. Até mesmo o ponto mais baixo da franquia, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal , de 2008, tido como o último da série, possui essa magia - apesar de ser um tanto problemático, tenho que admitir.  É um tanto decepcionante que Indiana Jones e a Relíquia do Destino , último lançamento de junho de 2023 e que promete, agora de fato, imagino, ser o último da franquia, seja somente bacana, com boa vontade.  Ainda que o diretor James Mangold - realizador por trás de Logan , entre outros projetos - emule dignamente Steven Spielberg, concebendo grandes sequências de ação, misturando drama, comédia, suspense e romance e...

Oppenheimer, de Christopher Nolan - Uma Análise: Final

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           Nem todo filme sobrevive a uma segunda vez.  Seja porque o filme em questão não é muito bom, então o repeteco revelaria mais problemas, seja porque não há mais o que tirar dele em termos de discussão - já se absorveu tudo e houve um esgotamento -, e não há mais nada a se oferecer além disso.  Então foi com certo temor que revi Oppenheimer, para escrever este texto que você está lendo agora - ou não, então estou escrevendo pra mim, e o problema seria só meu duplamente…vamos voltar para a análise, melhor. E o receio não é porque “ na primeira vez é sempre melhor, não é mesmo?” (risada ao fundo), e sim porque a primeira experiência contempla o descobrimento, sentir o que não sentiu antes, e, claro, isso, geralmente, amplifica a sensação de deslumbramento, o maravilhamento diante uma obra a ser desvendada. Dessa forma, quando sentei-me novamente em frente à tela no templo chamado cinema, tive uma experiência menos bombástica (com o...

Oppenheimer, de Christopher Nolan - Uma análise: Parte 1

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Segundo a mitologia grega, o titã Prometeu roubou o fogo dos deuses e apresentou-o à humanidade. Esse ato de benevolência, claro, foi acompanhado de uma punição: por ordem de Zeus, Prometeu foi acorrentado em uma montanha onde, dia após dia, por gerações, uma águia devorava seu fígado, que se curava todas as noites.  Essa referência não é minha, obviamente. Além de estar no título do livro que o inspira - Oppenheimer: o mito e a tragédia do Prometeu americano , lançado aqui no Brasil pela editora Intrínseca -, o roteiro de Christopher Nolan, Kai Bird e Martin Sherwin abre este paralelo entre a história de J. Robert Oppenheimer e o Mito de Prometeu já na abertura do filme, que, ao contrário do que se pode parecer, não é sobre a história da criação das bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki em 1945, o ponto final da Segunda Guerra Mundial, mas sim tem nela um claro ponto de interesse, e é dela que saí a grande discussão: o que nos impede de nos destruirmos? Além de, é cla...

De quê são feitas as memórias?

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“…Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva” ( Rutger Hauer como Roy Batty em Blade Runner - O Caçador de Andróides, 1982, dir. Ridley Scott) Ainda que seja apaixonado por cinema e pela experiência de ir ao cinema, minhas maiores lembranças com filmes são das idas semanais à locadora. Quando pequeno, pegava repetidamente clássicos da minha infância, como Como o Grinch Roubou o Natal , Space Jam - O Jogo do Século, uma animação das Tartarugas-Ninja que não lembro o nome e, no período, o filme que marcou uma virada em minha vida, Star Wars - Episódio 1: A Ameaça Fantasma - um CD duplo que nunca mais vi, com um jogo para computador, em flash, provavelmente, dentro -, uma paixão que nunca mais me deixou - algo que as produções recentes insistem em tentar. Quando mais “velho”, talvez em torno de 12 anos, passei a tentar consumir produções mais complexas. Foi a partir desse momento em que assisti pela primeira vez a Blade Runner - O Caçador de Andróides e 2001 - Uma...

Sonhar não custa nada (?)

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Em cartaz no Sesc Pompéia até o dia 02 de abril, a peça Banco dos Sonhos, direção de Kiko Marques com a Velha Companhia, nos leva novamente, ainda que agora de maneira mais leve, em uma jornada entre passado e presente, real e ficção, concreto e simbólico. Diferentemente do espetáculo anterior da companhia, o épico de drama e suspense Casa Submersa, de 2019, em que, apesar das alegorias políticas, idas e vindas temporais e sequências oníricas, mantinha sua história em uma estrutura convencional, em Banco dos Sonhos temos uma narrativa não-linear e poética, que não se prende, portanto, a fluxos específicos de tempo e a uma continuidade precisa - e faz parte da diversão completar essas lacunas. Antes de continuar, a trama. Uma conhecida atriz é recebida por uma visita inesperada: uma funcionária de um banco, que lhe diz que ela está morrendo e em dívida com a instituição que representa, o Banco dos Sonhos. A partir disso, adentramos a cabeça dessa mulher em seus últimos dias,...