Reunião de emergência

Todos entram numa sala e se sentam em uma larga mesa, daquelas típicas de escritório. 

- Então, vocês sabem por que chamei todos tão rápido? 

Disse a Razão. 

Ninguém diz absolutamente nada, afinal, é a Razão falando. 


- Pois bem, nos últimos dias ando percebendo um comportamento estranho nas atividades comportamentais e emocionais do Júlio. Ele anda feliz demais, alegre, um pouco distraído, mandando áudio longo...temo que ele esteja...apaixonado. 


A expressão de todos muda na sala. A Emoção e seus inúmeros assistentes - Alegria, tristeza, dúvida, raiva… - entram em euforia plena, afinal, nunca tiveram a chance de trabalhar tanto quanto estão para ter agora. 

- Por favor, por favor, se acalmem. Sei que é algo inédito para todos e é normal ficarem assim, mas se controlem, estamos trabalhando, ok. 


A Razão respira fundo e contínua. 

- ...Então, voltando ao que ia dizendo, apesar de ser uma novidade e tanto, e que muitos de vocês, e eu me incluo, não esperavam, não significa que devamos nos esquecer que temos de nos preocupar com o todo, não somente com o emocional ou físico. Esse acontecimento repentino traz consequências...


A Emoção interrompe. 

- Que tipo de consequências? Espero que boas, ele nunca passou por isso, e precisava disso, todos sabem. Olhem como ele está feliz…

- Feliz? Ele está cego, isso sim.


Disse o Bom Senso, um dos assistentes da Razão. 


“Eu concordo com ele”, disse a Raiva. “Tão cego que eu não consigo fazer nada! Estou inativo…”. 


“Raiva, que tal descansar um pouco? Se continuar assim vai ficar pior que a Tristeza, a coitada nem vê a luz do dia mais”. Disse a Dúvida, que igualmente anda sendo deixada de lado. 


A Razão volta a falar. 

- Está vendo, são essas as consequências. Sentimentos inutilizados e sem voz...Além de que agora ele também parou de ter foco em tudo, e anda escutando músicas melosas...um horror. 


“A parte das músicas eu tentei evitar de qualquer maneira, mas é mais forte que eu”, disse o Bom Senso. 

- Eu sei disso, mas não dá para evitar, porém. Ele nem sabe como lidar com o que sente...Será que ele sabe que pode estar experienciando esse tipo de sentimento? Ou será que só está achando tudo estranho…? 


“Ele parece tão contente!”, disse a Alegria, que nunca havia se sentido tão notada. 


"Que tal deixarmos acontecer? Nunca lidamos com isso antes, vamos permitir que se manifeste". Disse o Amor Próprio, um filho da Razão com a Emoção. "Nós só podemos falar do que conhecemos, e concordo com Alegria, ele parece muito bem", finalizou. 


Razão, que sempre foi a liderança e à frente da tomada de consciência agora percebe que precisa ceder. "Novas Experiências são necessárias", diz ele. A Lógica, o Bom Senso e o Amor Próprio concordam. 


Ao mesmo tempo em que todos aparentemente concordam, a porta se abre, é o Medo. “E se ele se machucar, nunca passou por isso antes”, diz. Junto a ele, vêm a Insegurança, logo atrás, concordando com ele. 


“Mas como vamos saber disso se nem deixarmos ocorrer?”, diz a Emoção. 


Uma discussão se inicia dentro do escritório, contudo, no lado de fora, Júlio se levanta de sua cadeira e deita-se na cama. Ele parece cansado.

- Nossa, que dor de cabeça…

Por: Victor Braz

Comentários

  1. Muito bom!!!
    Amei como você conseguiu representar os sentimentos de forma tão individuais

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  2. Um alter ego. Uma descoberta do outro eu? Seja o que for, é sensacional!

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