Critica: Os 8 Odiados
Quentin Tarantino faz seu melhor trabalho em western de extremos.
Quentin Tarantino é um cineasta de extremos. Desde seus primeiros filmes. Não só pela quantidade de sangue que um pequeno calibre de arma pode fazer, mas pelos assuntos também. Os 8 Odiados (The Hateful Eight, 2015), seu oitavo longa-metragem, e seu segundo faroeste, que gerou polêmicas sobre possível cancelamento após parte do roteiro ter vazado, é o que mais demonstra seu talento como roteirista e diretor (cuidado Pulp Fiction). Esse amadurecimento começa com a música do ótimo Ennio Morricone nos créditos inicias enquanto a fotografia mostra uma cruz de jesus crucificado e a carruagem que leva John "O Carrasco" Ruth (Kurt Russel), sua prisioneira Daisy Dormegue (Jennifer Jason Leigh), e o Major Marquis "O Caçador de Recompensa" Warren (Samuel L. Jackson), que estão indo até Red Rock para ganharem suas recompensas, porém, decidem ir até um bar próximo para se abrigarem, pois uma forte nevasca ameaça as terras do Wyoming. É claro que não foram os únicos a terem a ideia. No local também estão Bob "O Mexicano (Demián Bichir), Chris "O Xerife" Mannix (Walton Goggins), Oswaldo "O Pequeno" Mobray (Tim Roth), General Sandy "O Confederado" Smithers (Bruce Dern) e Joe "O Cowboy" Cage (Michael Madsen), e todos por uma única razão.
Apesar de fazer auto-referências a Cães de Aluguel (Resevoir Dogs, 1992) e ter relações com Django Livre (Django Unchained, 2012), seu oitavo trabalho é um exemplo de roteiro. E direção também. Ao contrário das instabilidades de sua película de 2012, Os 8 Odiados é uma grande evolução perto de outros projetos. Algo que era de costume do diretor e que foi retirado é o de juntar músicas, onde, basicamente, tinha uma cena com uma música e no corte tocava outra completamente diferente. E também o uso de músicas de gêneros muito diferentes, como em Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), onde há uma sequencia que toca David Bowie. Então vemos aqui um abandono de certos maneirismos, porém, também de artifícios, como a câmera lenta de Django. Mas se há algo que Tarantino não deixou de usar é o de assuntos que são abordados como pano de fundo. Se víamos a violência ao negro em seu último filme, aqui vemos o racismo e a violência contra a mulher, que a personagem de Jennifer Jason Leigh transmite.
E não são coisas fora de contexto, e sim assuntos que o roteiro usa que estão enraizadas na cultura da época, e com cenas sobre uma carta do presidente Abraham Lincoln que são impagáveis. Mas a direção também é de qualidade. Com atores que já participaram de outros trabalhos do cineasta, o elenco é feito de excelentes atores. Em parcerias de longa data, Samuel L. Jackson esta excepcional e interpreta como poucos, com cenas que o poderiam colocar no Oscar, o mesmo para Tim Roth, que faz um personagem que muda constantemente de humor e o ator o faz exemplarmente. Kurt Russel, que havia ganhado o titulo de canastrão por filmes como o próprio A Prova de Morte (Death Proof, 2007) demonstra o talento num papel com extremos, algo refletido numa cena onde quebra um violão na parede que é uma das melhores nas quase 3 horas de duração. E o resto do elenco também esta muito bem. Michael Madsen, em sua antítese no papel de Cães de Aluguel, faz o personagem quieto e misterioso, como muitos em faroeste devem ser. Jennifer Jason Leigh é uma das mais engraçadas, porém tem seus momentos próprios, Damién Bichir conduz "O Mexicano" com atuação muito diferente do que a vista em A Recompensa (Dom Hemingway, 2013), com menos cenas cômicas Walton Goggins repete seu ótimo papel em Django Livre, engraçado, porém, com mais presença. E Bruce Dern, com uma sequência onde contracena com Samuel L. Jackson que é conduzida muito bem, faz um personagem com menos presença do que em Nebraska (onde foi indicado ao Oscar) mas atua tão bem quanto.
Os extremos
Sem os zooms nos closes de câmera presentes em Django, Os 8 Odiados é um dos longas mais violentos do diretor desde seu Pulp Fiction - Tempo de violência (Pulp Fiction, 1994), algo que já é sua marca, porém, com mais excessos e escatologias, todavia, transformando o mais absurdo em comédia, outra de suas marcas. Mas por mais que tenha uma duração longa, as quase 3 horas compensam a demora para a trama engrenar, e apresentar todos os personagens, contudo, quando a ação chega, Tarantino mostra seu talento.
Não é a toa que vemos seu melhor longa recente. Com direito a metalinguagem no inicio de um dos capítulos, seu amadurecimento é visto, tanto no roteiro quanto direção, e se for seu penúltimo filme, pelo menos deixou-nos com um excelente western, que vai ser lembrado. Nota: 10
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