Critica: Os Infiltrados

Scorsese volta ao mundo do crime, agora para retratar o caos urbano.
Possivelmente (e definitivamente) Martin Scorsese é um dos melhores diretores de sua época, toda e qualquer lista de melhores filmes inclui pelo menos uma obra-prima do cineasta, porém, em tantos anos de carreira, ele nunca ganhou um Oscar de melhor diretor, o mesmo já foi indicado 5 vezes, por filmes como: Touro Indomável (1980), A Última Tentação de Cristo (1988), Os Bons Companheiros (1990), Gangues de Nova York (2002) e O Aviador (2004) - depois de tantos anos, finalmente Scorsese ganhou seu prêmio, no entanto, com seu filme mais extremista e referencial, Os Infiltrados (The Departed, 2006). O novo filme do cineasta se trata de um remake de Conflitos Internos (Infernal Affairs, 2002), produção de Hong Kong e dirigido por Alan Mak e Andrew lau. A historia se trata de um embate entre a policia e os criminosos chineses, Scorsese e o roteirista William Monahan adaptam o roteiro para Boston, mas a narrativa continua a mesma, mas com algumas mudanças, agora é um embate sanguinário entre a policia americana e a máfia irlandesa, mas o ponto principal é o mesmo: um policial infiltrado na máfia e um criminoso se passando por policial.
Na introdução somos apresentados aos três protagonistas, o primeiro é o mafioso Frank Costello (Jack Nicholson), que se torna uma figura paterna para Colin Sullivan (Matt Damon). Inteligente e bom aluno, Sullivan ganha destaque na academia de policia e se torna o informante ideal para Costello. Paralelamente conhecemos Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), policial recém formado cuja a família tem ligações com o crime, fazendo-o ser a melhor escolha para se infiltrar no grupo de Costello. Como um bom diretor, Scorsese consegue extrair boas interpretações de seus atores, o melhor ator aqui é Jack Nicholson, num de seus melhores papeis, outro que esta bem é Mark Wahlberg, fazendo um policial estressado e que participa do desfecho do filme. Scorsese é conhecido por ter estilo em seus filmes, principalmente na parte técnica, um exemplo é em Cabo do Medo (1991), onde, nas cenas de conversa, o diretor junta um frame no outro, o meio fica desfocado e um personagem fica em foco na esquerda, de frente pra tela e outro fica em foco na direita, de costas pra tela - esse mesmo truque foi usado em alguns filmes de Brian De Palma.
Um detalhe técnico no filme são as sombras, um exemplo é na primeira aparição de Frank Costello, onde o mesmo só aparece na forma de sombra. Apesar de ter roteiros muito originais, Scorsese traz muitas referências em seus filmes, no próprio Cabo do Medo o diretor faz citações ao filme original (sim, Cabo do Medo é um remake) e ainda traz um dos atores de Circulo do Medo (nome do filme original). A referência em questão em Os Infiltrados é a Scarface, não o filme de Brian De Palma e sim o original de 1932, no filme, antes de todas as mortes há um X no cenário, o cineasta presta essa homenagem e antes de todas as mortes em Os Infiltrados há um (ou mais) X na cena. Os Infiltrados marca a volta de Martin Scorsese no filme de máfia, gênero que ainda domina. Conflitos Internos tem o nome original de Mou Gaan Dou, o nivel mais baixo do inferno no budismo. Esse nome faz sentido em Os Infiltrados, afinal (como o próprio Costello domina traidores), ratos não são um privilégio do crime/inferno e cobras não são um privilégio dos policiais, ou, do paraíso.
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