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Mostrando postagens de outubro, 2016

Critica: O Contador

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Filme de matador acha em sua falta de sentimentos uma forma de fugir do desgaste. Os filmes de matador estão entre os mais saturados. Não há um ator que já não tenha interpretado um assassino em último serviço, que é traído por seus contratantes ou se apaixona em operação. Gavin O'Connor acha no seu O Contador (The Accountant, 2016) uma forma de fugir do desgaste em um longa que se propõe a ser um drama acima de tudo, não um thriller de ação. Na trama, Christian Wolff (Ben Affleck) é o contador do título, possui sua empresa na qual faz negócios no bairro e ajuda os moradores locais, apesar do relacionamento inter-pessoal não ser seu forte. Fora do expediente, ele é um matador profissional que faz contratos com empresas pertencentes a mafiosos; e é tão bom no que faz que é procurado pela polícia.  Nesse cenário, onde vemos um protagonista autista - interpretado por Affleck de forma impressionante - com uma vida dupla - o assassino e o trabalhador -, O'Connor consegu...

Critica: O Shaolin do Sertão

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Halder Gomes reverência Bruce Lee em filme que se inspira nos clássicos, mas mantém sua originalidade.  Quando fez Cine Holliúdy em 2013, Halder Gomes homenageou o cinema feito a moda antiga e a sua importância cultural, numa época onde houve o auge das televisões, em O Shaolin do Sertão (2016), o diretor não só reverência Bruce Lee, mas os clássicos de luta, como O Grande Dragão Branco e Karate Kid.  Edmilson Filho interpreta Aluísio Li, um morador de uma pequena cidade do interior do Ceará nos anos 80 que é aficionado por filmes de luta chineses, os clássicos feitos pelo finado Bruce Lee, porém, ele não é respeitado nas ruas e não é visto por sua amada, interpretada por Bruna Hamú. Eis que um dia a oportunidade bate á porta de Li. Um dos maiores lutadores do Brasil, Tony "Tora" Pleura (Fábio Goulart), irá á Quixadá para uma luta, seu oponente? Indefinido. Aluisio então decide se voluntariar, para ganhar seu respeito e o amor da mulher que tanto ama.  Apesar...

Critica: Zoom

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Coprodução brasileira mistura A Viagem e Waking Life com claras ideias metalinguísticas. Um filme sobre um quadrinho sobre um diretor que conta a história de uma escritora cujo o livro é sobre a mulher que criou o quadrinho. É nesse pretexto que começa Zoom (2016), de Pedro Morelli, um longa com ideias metalinguísticas e inventivas. Na trama - com três histórias conectadas e dois assuntos em comum: a arte e o sexo - acompanhamos primeiro Emma (Alison Pill), uma jovem que trabalha em uma fábrica de bonecas realistas que acaba se envolvendo em uma confusão enquanto tentava ganhar dinheiro fácil, paralelamente vemos Michelle (Mariana Ximenes), uma modelo que sonha em ser escritora mas só é reconhecida por sua beleza, e por último, Edward (Gael Garcia Bernal), um diretor conhecido por seus clichês filmes de ação e que usa do sexo para convencer uma produtora a fazer sua obra mais existencialista e dramática. Em sua estreia, Morelli faz em Zoom um longa que consegue comportar...

Critica: Personal Shopper (Festival do Rio 2016)

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Drama, espíritos e terror em nova reunião de Kristen Stewart e Olivier Assayas. Bem diferente de Acima das Nuvens (2014), primeiro trabalho da atriz Kristen Stewart com o diretor Olivier Assayas, porém, Personal Shopper, seu novo projeto, consegue ser inquietante e instigante ao mesmo tempo. Maureen (Stewart) é uma personal shopper, cujo o trabalho é fazer compras/entregas á seu empregador. Entre o entra e sai de lojas, a jovem também tenta exercer outra habilidade que possui: a mediunidade. Dom que usa para tentar cumprir uma promessa que fez ao seu falecido irmão-gêmeo Lewis, que queria provar a existência de vida após a morte. Ao contrário do que a história diz, a intenção do diretor não é discutir a religião ou o trabalho do medium, e sim de usar a habilidade de falar com espíritos para desenvolver a personagem e sua narrativa, que em sua lentidão começa a criar um suspense enervante. Além de dar a história rumos que em nenhum momento se tornam pré-estabelecidos. Esse ...

Critica: Os Belos Dias de Aranjuez (Festival do Rio 2016)

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Um diretor á procura de seu filme. Em sua nova ficção desde Tudo Vai Ficar Bem, Wim Wenders faz em Os Belos Dias de Aranjuez (Les Beaux Jours d'Aranjuez, 2016) seu filme com menos narrativa. O roteiro acompanha um autor sem nome (Jens Harzer) que esta sem ideias para seu novo romance. Entre ouvir músicas de Nick Cave e procrastinar, o mesmo olha para as paisagens em sua casa na França e tenta achar ali a ficção que tanto procura. Quase só formado por diálogos, e intercessões músicas de Cave, Wenders faz aqui sua procura por uma narrativa. Enquanto o escritor olha para sua varanda e imagina seus personagens (vividos por Reda Kateb e Sophie Semin), o diretor procura nos diálogos filosóficos que escreve, seu filme. Feito com muitos planos sequência, Os Belos Dias de Aranjuez não tem pressa em desenvolver o pouco de narrativa que possui. Em seus 97 minutos, Wenders não se preocupa com certos elementos convencionais como o desenvolvimento de personagem ou na história, já ...

Critica: Gimme Danger (Festival do Rio 2016)

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Primeiro documentário de Jim Jarmusch chega á altura da loucura dos Stooges. "Nós acabamos com os anos 60" é uma das frases de Iggy Pop em uma entrevista presente em Gimme Danger, novo filme de Jim Jarmusch sobre os Stooges. Em uma época em que houve a explosão do rock e a chegada de diversas bandas, como os Rolling Stones, a banda nascida em Detroit conseguiu seu destaque da forma mais ousada possível: na loucura. Entre as guitarras quebradas e a gritaria, havia as performances do vocalista Iggy Pop no palco. Performances essas que lhe renderam diversas marcas. Ao contrário de outros documentários sobre música, porém, Gimme Danger não se concentra só na história da banda, e sim na sua influência e em seus atos. Com relatos de seus integrantes, "os que restaram dos Stooges", o filme acompanha desde o nascimento da banda, em meados da década de 1960 nos EUA, até os dias de hoje.  Conhecido como sendo um diretor que não gosta de uma narrativa em suas ob...

Critica: Yoga Hosers (Festival do Rio 2016)

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Novo de Kevin Smith acha na bizarrice uma chance de falar sobre a geração Y.  Em tempos de pouca originalidade no cinema, com produções de refilmagens, adaptações ou reboots á todo momento, Yoga Hosers, de Kevin Smith, mostra que ainda pode haver ousadia no cinema. Após ter feito Tusk - o primeiro de sua trilogia sobre histórias no Canada -, seu novo longa, porém, adere a bizarrice enquanto tenta abordar certas questões importantes. Em Yoga Hosers, Smith faz um misto entre "filme de colegial" e terror. Na história, as duas melhores amigas Colleen Collete  (Lilly-Rose Depp) e Colleen McKenzie (Harley Quinn Smith) são pequenas lendas locais após terem ajudado a salvar a vida do podcaster, vivido por Justin Long em Tusk, que havia sido sequestrado por um velho sádico e transformado em morsa. Porém, a vida das duas é "bem básica": estudam, trabalham e tem uma banda. Contudo, em um comum dia de trabalho, as duas são chamadas pelo popular Hunter Calloway (Austin ...

Critica: Capitão Fantástico (Festival do Rio 2016)

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Família, natureza e politica são o destaque na estreia de Matt Ross. Um dos cernes do filme de estrada, um subgênero que nasceu a partir de filmes como Easy Rider, foi tratar de processos culturais, como o movimento beat, ou em retratar objetivos, o que vimos em longas como Mad Max - Estrada da Fúria, que em essência conseguiu dar uma sobre-vida ao road-movie, porém, Capitão Fantástico, filme de estreia de Matt Ross, desconstrói o gênero, misturando diversos assuntos e ideias. Nele, Ben (Viggo Mortensen) vive com seus seis filhos em uma floresta nos EUA. Longe das metrópoles e do caos urbano, ele e sua família vivem da caça e da colheita. O que parecia ser uma vida tranquila acaba por ter uma mudança, já que a mãe das crianças e esposa de Ben, faleceu. E apesar dos pais dela não quererem a presença de Ben, ele e sua família vão com seu motorhoming até o local do enterro no Novo México. O que parece uma história comum no road-movie acaba tendo um desfecho diferente do esper...

Critica: Manchester á Beira-Mar (Festival do Rio 2016)

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Casey Affleck brilha em drama de Kenneth Lonergan. O inicio de Kenneth Lonergan no cinema, como roteirista, trabalhando em comédias como Mafia no Divã, indicavam um caminho completamente diferente do que o visto em Manchester á Beira-Mar (Manchester By the Sea, 2016). Em seu terceiro trabalho, o diretor faz aqui um drama que cresce muito em seus momentos mais silenciosos, de câmera fixa; ou com umas das músicas compostas por Lesley Barber ao fundo, só vendo tudo acontecer por gestos dos personagens. Mas, diferentemente de outros do gênero, aqui não assistimos ao um longa com uma estrutura narrativa usual, e sim, um filme que conta sua história por constantes flashbacks ou lapsos de memória que intercalam as cenas. Uma escolha de contar a história interessante, já que o roteiro - escrito pelo próprio diretor - se beneficia dessa montagem.  Aqui acompanhamos Lee Chandler (Casey Aflleck), um homem quieto e solitário que ganha a vida trabalhando de faz-tudo e zelador, porém, q...