Critica: O Contador
Filme de matador acha em sua falta de sentimentos uma forma de fugir do desgaste.
Os filmes de matador estão entre os mais saturados. Não há um ator que já não tenha interpretado um assassino em último serviço, que é traído por seus contratantes ou se apaixona em operação. Gavin O'Connor acha no seu O Contador (The Accountant, 2016) uma forma de fugir do desgaste em um longa que se propõe a ser um drama acima de tudo, não um thriller de ação.
Na trama, Christian Wolff (Ben Affleck) é o contador do título, possui sua empresa na qual faz negócios no bairro e ajuda os moradores locais, apesar do relacionamento inter-pessoal não ser seu forte. Fora do expediente, ele é um matador profissional que faz contratos com empresas pertencentes a mafiosos; e é tão bom no que faz que é procurado pela polícia.
Nesse cenário, onde vemos um protagonista autista - interpretado por Affleck de forma impressionante - com uma vida dupla - o assassino e o trabalhador -, O'Connor consegue fazer um ótimo misto entre o drama, o policial, e o thriller, sem perder sua essência. Ao contrário dos clássicos da espionagem e dos longas de assassinos profissionais, Christian Wolff foi moldado literalmente pelas consequências. Seu autismo funcional o faz ter outras habilidades sob-humanas, além do dom da matemática, o de lutar e da precisão, e O Contador se prende á isso fazendo uma história que não se agarra nos vícios ou clichês comuns - o herói, ou anti-herói, sendo feito de refém, o embate final entre o protagonista e o vilão.
E ao contrário de um O Homem Misterioso (2010), que usava da sensibilidade europeia para fazer um cinema mais artístico, não escapista, Gavin O'Connor opta por realizar sequências de ação com cortes moderados e ângulos de câmera que acompanhem a luta, e nos tiroteios, uma câmera mais parada, mas com um sentido de urgência que não é evidenciado por cortes excessivos.
Com uma boa escolha de casting, porém, com exceção de Affleck, os atores fazem um bom trabalho, mas não fazem algo impossível, ou que nunca foi feito antes de outra forma. Anna Kendrick faz aqui a estagiária (repetindo em parte o que fez em Amor sem Escalas), que vai aprendendo com forme lida com a personalidade difícil de Wolff, mas que em nenhum momento atinge um ponto alto em sua atuação (apesar de não ser um papel muito exigente), J.K Simmons e Cynthia Addai-Robinson representam as autoridades, enquanto Simmons faz aqui um papel mais misterioso, Robinson faz o estilo novata com competência, mas não consegue achar no roteiro uma forma de passar do esterótipo.
Em um filme que sabe lidar com a ação e os clichês, além de entender seu protagonista, Gavin O'Connor faz em O Contador seu melhor trabalho. Nota: 8/2

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