Critica: Zoom

Coprodução brasileira mistura A Viagem e Waking Life com claras ideias metalinguísticas.
Um filme sobre um quadrinho sobre um diretor que conta a história de uma escritora cujo o livro é sobre a mulher que criou o quadrinho. É nesse pretexto que começa Zoom (2016), de Pedro Morelli, um longa com ideias metalinguísticas e inventivas.

Na trama - com três histórias conectadas e dois assuntos em comum: a arte e o sexo - acompanhamos primeiro Emma (Alison Pill), uma jovem que trabalha em uma fábrica de bonecas realistas que acaba se envolvendo em uma confusão enquanto tentava ganhar dinheiro fácil, paralelamente vemos Michelle (Mariana Ximenes), uma modelo que sonha em ser escritora mas só é reconhecida por sua beleza, e por último, Edward (Gael Garcia Bernal), um diretor conhecido por seus clichês filmes de ação e que usa do sexo para convencer uma produtora a fazer sua obra mais existencialista e dramática.

Em sua estreia, Morelli faz em Zoom um longa que consegue comportar bem as três histórias que conta e é capaz de criar uma identidade visual á cada uma. O segmento de Emma por exemplo é cheio de cores e cenários claros, com planos mais limpos, já a parte de Michelle tem muito o uso do preto e branco, planos claustrofóbicos e uma paleta de cores escura, o que contrasta diretamente com os cenários ensolarados do Brasil onde a película, em parte, foi gravada. Contudo, o segmento que mais se destaca, e o melhor de Zoom, é o de Gael Garcia Bernal. Rodado todo em rotoscopia - uma tecnologia que se assemelha a captura de movimento, mas que é basicamente desenho feito por cima da cena, frame por frame -, é a parte que melhor se resolve enquanto seu estilo e visual, já que consegue usar nas cores uma forma de diferenciar o sentimento dos personagens e afins - como em uma cena constrangedora protagonizada por Edward onde ele começa a perder a cor.

E essas ideias se refletem também no roteiro. Quando a confusão na trama se instaura, a estrutura narrativa se quebra por completo. Além de um excelente exercício de metalinguagem, já que o longa passa a brincar com si mesmo e a mudar de tom e falas e ações a todo tempo, há uma quebra de quarta parede também. 

Em primeiro trabalho, o brasileiro Pedro Morelli faz aqui um ótimo longa, que sabe brincar com si próprio em suas peculiaridades, além de trazer novos ares ao cinema brasileiro, numa ousada mistura entre Waking Life (longa de Richard Linklater de 2001 que se tornou referência no uso da rotoscopia), A Viagem ( sci-fi dos irmãos Wachowski de 2012 que misturava 6 histórias de gêneros diferentes) e até um pouco de O Lobo de Wall Street (de Martin Scorsese, onde Leonardo DiCaprio manipulava o roteiro conforme suas narrações em off). Nota: 10

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