Critica: Gamer
Dupla Neveldine/Taylor fazem sua homenagem mal acabada aos games e a era pré-Matrix noventista.
Não escrevo sobre um filme relativamente velho a um bom tempo. Mas após assistir a Gamer (2008), um dos filmes da dupla Neveldine/Taylor, dos dois Adrenalina e Motoqueiro Fantasma - Espirito de Vingança, que fazem aqui sua homenagem aos games e a era pré-Matrix nos anos 90, um mal acabado longa de ação que nem se vale pelas cenas que imitam um jogo de Third Person Shooter (o clássico "terceira pessoa"), a unica sensação que dá e a de um filme cheio de problemas que tenta se vender por boas ideias. Nele, um desenvolvedor de games de realidade virtual (Michael C. Hall) chega com uma nova ideia, numa clara distopia, de usar detentos para serem os personagens de sua nova criação, Slayers. Com permissão do governo, cada preso é controlado por uma pessoa, e os jogos, no estilo de Jogos Vorazes, são televisionados pelo mundo inteiro, e a estrela disso tudo, além de seu criador, Kable (Gerard Butler), que já lutou 27 das 30 partidas, depois é liberado para o mundo externo. Após certos acontecimentos e o envolvimento de um grupo anárquico, o Humanz, Kable foge para encontrar sua mulher, que é uma personagem de um jogo estilo The Sims, só que com doses de LSD, e filha. Ou seja, o clássico enredo estilo Super Mario: Salvar a princesa do castelo do inimigo.
Com cenas cheias de violência e até um pouco de drama, Gamer tenta não ser só um filme que pega a estética de video game e a usa para chamar o público, e sim uma película que traz um pouco dos jogos de hoje em dia: O personagem tem personalidade, e literalmente uma vida "fora do jogo". Se Doom - A Porta do Inferno tinha a seu dispor a primeira cena feita em primeira pessoa - que aliás, não combina nada com o filme -, Gamer tem muitas características de um jogo. Começando pelo HUD (a tela onde se vê a barra de vida, quantidade de munição, entre outras coisas), que é colocada em uma cena, e que não faz muita diferença, é só algo a mais em tela, além das explosões e movimentação com câmera na mão, algo já comum na dupla de diretores.
Fora que todo o jogo, uma clássica partida de Team Death Match, só que em escala mundial, traz diversas características de uma partida de multiplayer, com comunicação entre os soldados - uma clara metalinguagem ao jogador com seu microfone se comunicando com outros players -, as câmeras em ângulos diversos e a pontuação ao matar outro inimigo são coisas que Neveldine e Taylor trazem para manter sua legitimidade. E quando falo de legitimidade me refiro ao ponto na qual falei de Matrix. Kable basicamente é um Neo anabolizado, que, invés de ter poderes na sua realidade, sua Matrix, é controlado por alguém fora de seu mapa, onde as lutas/partidas acontecem e recebe do grupo Humanz - que é contra os jogos de realidade aumentada - a escolha das pílulas azul e vermelha. Mas ao contrário das filosofias implantadas pelos Wachowski, a dupla só injeta no roteiro a ideia, e nada mais que isso, e tenta nos entreter com reviravoltas baratas e diálogos que extrapolam o aceitável no cinema de ação. Por mais raso que seja. Mas nada é em vão. Há coisas legais aqui. Como a luta entre Kable e outro prisioneiro - numa clara boss fight -, onde há tentativa de uma discussão, sobre até onde o ser humano controla, e, no caso, o jogador assume, porque nessa cena, o prisioneiro na qual nosso protagonista luta, não é controlado por um player. Não sei se só eu enxerguei isso, não quero dar minha primeira nota 0, mas Gamer tem suas partes boas. Com uma equivocada edição, picotada, simulando defeitos na câmera, roteiro mal feito, má direção, dão num filme mal acabado. E ao final, Gamer nos mostra, em cima de sua tentativa de discussão séria, que a mente humana é algo a ser retratado no cinema, até nas mãos escapistas de Mark Neveldine e Brian Taylor. Nota: 2/3
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